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Blog da Neide.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Brasil está crescendo rápido demais? Para muitos economistas, sim. Restrições estruturais podem barrar um crescimento sustentável no longo prazo.

Resiliência em meio à crise e avanço da economia brasileira levou o país à capa da mais prestigiada revista de economia e negócios do mundo
Se no ano passado a grande discussão entre os economistas brasileiros era saber se o país já havia se recuperado da crise mundial, neste ano a principal questão nas mesas de debate promete ser exatamente o oposto: o Brasil está crescendo rápido demais? Para uma parcela considerável de economistas e especialistas, a resposta é um sonoro sim.

“O trânsito de São Paulo é o melhor exemplo de como a economia brasileira está aquecida e dos desafios de infraestrutura que ela enfrenta”, diz Marcelo Carvalho, economista-chefe do Morgan Stanley para o Brasil. Segundo as expectativas do banco de investimentos americano, o Brasil deve crescer 6,8% neste ano, enquanto a média mundial aponta para um avanço de 4,6%. O desempenho é bem melhor do que o esperado da média dos países desenvolvidos, de 2%.

Uma expansão brasileira superior à americana e à européia pode parecer à primeira vista um sonho, mas pode virar facilmente um pesadelo, alertam os economistas. “O Brasil está crescendo acima de seu potencial. No quarto trimestre de 2009, a alta do PIB anualizado era de 8%. Neste primeiro trimestre, o avanço foi igual ou até maior. O problema é que quando o país cresce acima de 5% ele esbarra em restrições estruturais”, afirma Carvalho.

Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Banco Santander no Brasil, faz a mesma análise. “A oferta [capacidade produtiva para acompanhar a demanda] não consegue crescer no Brasil, porque o investimento não aumenta”.
As conseqüências diretas desse gargalo seriam um aumento da inflação e a deterioração das contas externas. O Morgan Stanley já prevê que o IPCA ultrapasse a meta do governo tanto neste ano, quando deve alcançar 5,8%, quanto em 2011.

A primeira resposta para conter a inflação já foi dada pelo Banco Central (BC), ao subir a taxa básica de juros da economia (Selic) de 8,75% para 9,5% em abril, o primeiro aumento desde setembro de 2008. “O BC já freou o crescimento do país no passado e irá fazer isso agora também”, diz Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV.

Já a situação fiscal do governo é um assunto muito mais espinhoso. “Nosso grande desafio nos próximos anos é o fiscal. O governo gasta muito e gasta mal, além de manter um carga tributária muito elevada. A administração federal quase não investe e tem despesas altas com funcionários públicos e aposentadorias. Para eliminar as restrições que barram um crescimento mais elevado no Brasil, será necessário criar um ambiente mais sustentável para os negócios”, afirma Carvalho.

A opinião é quase consenso entre os economistas. “[Sem cortar os gastos], não vejo possibilidade de crescermos aceleradamente”, diz Nakano. Quase, porque há sim quem discorde. Para Amir Khair, economista e especialista em finanças públicas, a situação fiscal não é preocupante.

“Neste ano, a arrecadação vai crescer bem mais do que as despesas federais. Com o crescimento econômico, ela sobe com a alta no lucro das empresas e as perdas com sonegação diminuem. A base do crescimento é o consumo. O empresário só investe se vê perspectiva de elevação do consumo”. O avanço da economia brasileira é visto por Khair, portanto, como parte da solução para os problemas fiscais e como algo essencialmente positivo. Quem está certo? O tempo dirá.

Fontes: Revista Época - Por Elisa Campos